terça-feira, 18 de setembro de 2012

Ciência Política na Escola Básica

Há exato um mês, lançamos o movimento “Ciência Política na Escola Básica”. Um movimento que pretende coletar 1.300.000 assinaturas e enviar ao Congresso Nacional para que seja incluída nas grades curriculares das escolas de ensino fundamental II e médio a disciplina de Ciência Política. 

No nosso artigo de Julho, aqui pela Gazeta Vale Paraibana, explicamos de maneira bem generalizada o que gostaríamos de atingir com essa campanha. A princípio criamos um grupo pelo facebook para discutir o projeto e a viabilidade deste. 

A ideia tomou forma e fizemos o lançamento oficial do movimento no dia 01/08/2012. Comemoramos cada assinatura, cada palavra de apoio ao projeto, criamos um blog para divulgar o projeto de lei: 

www.politicanaescolabasica.blogspot.com, 
página no facebook : facebook.com/cienciapoliticanaescolabasica, 
twitter (@Politicanaesc), 
email cienciapoliticanaescola@gmail.com; 

Enfim, demos corpo ao projeto e iniciamos a campanha. Não demorou e as críticas também chegaram. Dessas críticas podemos destacar a do Filósofo Paulo Ghiraldelli que acredita se tratar de um movimento de fragmentação das ciências humanas uma vez que, no seu entender, poderia trazer uma fragilização das disciplinas de Geografia, História, Filosofia e Sociologia, além de que o conteúdo “Política” seria tratado transversalmente nas disciplinas citadas. 

Outras críticas também merecem destaques tais como: “Os professores de humanas vão perder aula”; “Organização Social e Política do Brasil (OSPB) e Educação Moral e Cívica tratavam desses assuntos”; “As escolas têm autonomia para montar o currículo”; “o Brasil já tem muita lei, pra que criar mais uma”, ou mais recentemente as pérolas emitidas pelo twitter pelo economista Gustavo Ioschpe que classificou o projeto como “desastroso” e que “o currículo precisa ser reduzido, não aumentado. E política em sala de aula vira doutrinamento” (sic). 

Pois bem, às críticas emitidas gostaríamos de esclarecer que as disciplinas de História, Geografia, Sociologia e Filosofia possuem objetos de estudos próprios e a grade de temas propostos no projeto de lei não são contemplados pelas disciplinas citadas. Tanto que antes de lançar o projeto fizemos uma pesquisa em mais de trinta livros que são utilizados pelas escolas básicas. Quanto a diminuição de carga horária dos professores, o projeto de lei contempla a atribuição dos professores a que se refere essa disciplina de Ciência Política. 

Os conteúdos de OSPB e Educação Moral e cívica eram utilizados com outros fins pelo governo da época, e o Decreto Lei 869/68 não pautava os conteúdos para serem abordados. Ainda que as escolas tenham uma relativa autonomia para montar seu currículo, são raras as escolas (não conhecemos nem uma escola pública) que modificam seus currículos diante das orientações oficiais dos sistemas estaduais e municipais. 

Ainda assim, mediante uma lei específica são criadas e retiradas disciplinas obrigatórias do currículo escolar mediante o interesse público e o contexto social e histórico que o país vive. 

Quanto às críticas emitidas pelo economista, o mesmo é a favor da reforma do MEC que pretende juntar as disciplinas do ensino médio, com o único propósito de aumentar os pífios índices do IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica). 

Ora, o MEC resolveu melhorar a nota do IDEB abaixando a qualidade da escola básica (pública, sobretudo), juntando Química, Física e Biologia em uma única disciplina, História, Geografia, Filosofia e Sociologia em uma mesma disciplina. Lembrando que as escolas têm autonomia para montar seus currículos, provavelmente as escolas particulares continuarão com o currículo tradicional, uma vez que o seu aluno sairá melhor preparado do que aquele te teve aula de “tudo junto e misturado”. Sendo assim, volta-se à nossa tradicional pergunta “a quem interessa o ensino público sem qualidade”? 

Quantas Organizações não Governamentais (OnG’s) se beneficiam de investimentos públicos e privados (que acabam sendo públicos, por conta da dedução de impostos) para aplicarem seus projetos que “salvam a educação”? 

Querem melhorar a nota do IDEB é fácil, diminuam a quantidade de alunos por sala de aula, melhorem a fiscalização sobre a formação inicial e continuada do professor, garantam com que o professor efetivamente trabalhe em uma única unidade escolar e seja bem remunerado por isso, criem um plano de carreira para o magistério que realmente valorize esta carreira. 

Todos os questionamentos acima apresentados esbarram nas questões políticas, não estamos falando em questões partidárias, mas políticas, pois um povo que tem consciência dos seus deveres tende a conscientizar-se, inclusive dos seus direitos, e não o contrário. 

Só para finalizar, contabilizamos neste primeiro mês: 310 assinaturas, 427 “curtir” na nossa página e 24 seguidores no Twitter. Os números são baixos? Podem ser, mas estamos no primeiro mês. 

Omar de Camargo
omacam@professor.sp.gov.br
Técnico Químico, Professor em Química
Pós-Graduado em Química

Ivan Claudio Guedes
icguedes@ig.com.br
Geógrafo e Pedagogo, especialista em Gestão Ambiental, 
Mestre em Geociências e doutorando em Geologia.

Textos relacionados:
Interdisciplinaridade
Ciências Política na Escola

Texto retirado : GAZETA VALE PARAIBANA


quarta-feira, 5 de setembro de 2012

A EDUCAÇÃO ADEQUADA

Por : Antônio Carlos Vieira

Observando alguns colégios, recordei-me do passado, de como era o ambiente em que estudava quando ainda garoto e também na adolescência (década de 70 do século XX). 



Tínhamos espaços para correr a vontade, as janelas não tinhas grades, os jardins possuíam flores e até mesmo o portão de entrada era em um muro que cercava todo o colégio. Não existia portão nem grades na área em que ficava as salas administrativas e salas de aulas.

Nesta época, era muito raro alguém invadir o colégio ou mesmo algum aluno evadir-se sem avisar aos professores ou a diretoria do colégio.

Mas observando as escolas atualmente, a impressão que se tem é que se está entrando dentro de uma cadeia ou pior! Levando-se em consideração que nas penitenciarias existe uma área entre o portão de entrada (que fica no muro que cerca a penitenciária)  e o portão onde fica o prédio propriamente dito e essa área nem sempre existe nos atuais colégios. O portão de entrada fica na entrada do prédio propriamente dito (não existe áreas abertas), geralmente não existe muros, as paredes externas já são as salas de aulas e isso vale para as Escolas Públicas e Escolas Particulares (principalmente essas).

Colégio Estadual Murilo Braga - SE - atualmente com grades nas janelas, com portão de
 ferro, entre uma ala e outra foram construído muros com vidros sobre os mesmo.
Em todos os colégios existem grades de ferro (isso vale para Escolas Particulares e Escolas Públicas) que impedem que alguém entre e consequentemente saiam do colégio que não seja pelo portão da frente, geralmente  controlado por porteiros e no caso das Escolas Particulares, por seguranças. Algumas Escolas  Particulares já controlam a entrada das pessoas com sistemas de câmaras de segurança (muito semelhantes aos existentes nas penitenciarias).

As pessoas (alunos, professores, pais de alunos e funcionários) entram e saem do colégio como se isso fosse a coisa mais natural do mundo. Nem percebem que estão estudando no que podemos chamar de Prisões Educativas!!!!!  Onde as pessoas ficam presas e os alunos já saem educados e adequados para a realidade.

O que se está se educando?

Se formos observar os tipos de moradias, as empresas (públicas e privadas) e demais ambientes em que vivemos  tudo está protegido com grades. Claro que essas grades impedem que as pessoas entrem sem permissão nesses ambientes, mas elas também impedem que as pessoas saiam!!!!

Casa residenciais protegidas para impedir a entrada de estranhos e consequentemente
impedem que os moradores saiam livremente....
A conclusão que se pode chegar é que a educação se moldou a maneira em que vivemos ou a maneira que vivemos se moldou a educação. De qualquer maneira, qualquer criança que vá estudar nesses colégios, já saem acostumadas e achando normal se viver em ambientes como se fossem prisioneiros.

domingo, 2 de setembro de 2012

Ciências Políticas na Escola


Mais uma disciplina? 

Raquel Júnia - Escola Politécnica de Saúde 
Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz) 

PL propõe inclusão da matéria no currículo escolar. Para educadores, escola é lugar da política, mas não como disciplina. 

O projeto de lei 7746/2010 inclui no currículo obrigatório do ensino médio a disciplina ciências políticas. De autoria do deputado federal Ronaldo Caiado (DEM/GO), a proposta sugere que seja ensinado aos estudantes conteúdo técnico e não partidário, relacionado à história do voto no Brasil, atribuições dos cargos políticos, diferenças entre os poderes legislativo, executivo e judiciário, entre outros assuntos. O projeto alteraria a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), que já foi modificada recentemente para a inclusão das disciplinas obrigatórias de sociologia e filosofia.

De acordo com o site da Universidade de Brasília (Unb), que oferece um curso de graduação em Ciência Política, o estudo dessa área de conhecimento “envolve diversas disciplinas das ciências humanas, como História, Geografia, Filosofia e Antropologia”. Ainda segundo a universidade, “o cientista político é alguém que conhece profundamente a história dos processos políticos e tem habilidades para definir tendências e sugerir caminhos”. O deputado Ronaldo Caiado, ao propor que a disciplina seja obrigatória, argumenta que a mudança contribuiria para o aperfeiçoamento do processo democrático. “Os eleitores estarão mais capacitados para entenderem a realidade política à sua volta. Atualmente muitos eleitores votam sem saber a atribuição dos cargos políticos”, defende na justificativa do projeto de lei. O deputado completa: “É importante que o brasileiro saiba quais as atribuições de um governador, de um deputado federal, pois se estes o representam, é imprescindível que se saiba em que dimensão da atuação política eles estão. Assim, o eleitor terá maior noção da realidade em que está inserido, o que o levaria a um maior discernimento para votar”. 

Ao contrário do que pensa o deputado, o filósofo e professor-pesquisador da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz) Cláudio Gomes acredita que a filosofia e a sociologia são suficientes para trabalhar esses temas. “Para esse conteúdo técnico não precisaria de ciência política, a sociologia daria conta em um mês”, aposta. Cláudio considera também que não há mais espaço no ensino médio para mais uma disciplina. “Ficar entulhando o ensino médio com mais disciplinas a cada ano é um grande erro. Mas 
não basta dizer que não há mais espaço: essas ideias partem sempre do princípio de que o conhecimento é apenas informação ”, afirma. 

O professor da Faculdade de Educação da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) e também do Programa de Pósgraduação em Educação Profissional em Saúde da EPSJV/Fiocruz, Gaudêncio Frigotto, tem a mesma opinião. “Vamos inchando o currículo cada vez mais. Agora mesmo estava lendo no jornal uma reportagem que dizia que uma escola pública estava iniciando um projeto de educação financeira proposto pela CVM [Comissão de Valores Mobiliários], pelo Banco Central, pela Bovespa. Isso significa exatamente educar para novos acionistas. A história, a sociologia, a filosofia e outras disciplinas do ensino básico já dão um fundamento para entender o homem na sociedade e o homem dentro das relações sociais”, opina. 

Para além da falta de espaço no currículo, Gaudêncio acredita também que há um equívoco na proposta do deputado de inclusão de ciências políticas no currículo do ensino médio. “Querer dar um curso de ciência política como técnica é um contra-senso em si. A política não é uma técnica, é uma relação social, de classes, uma arena de conflito numa sociedade de classes. A concepção que essa disciplina pretende passar sobre a política não é a única; é justamente a que busca alienar o estudante chegando à conclusão de que a 
política é coisa de especialistas e técnicos”, critica. 

Para Gaudêncio, uma escola que tem uma proposta pedagógica de formação a partir de uma leitura crítica do mundo pode garantir a discussão política até em disciplinas como a matemática. O educador ressalta que matérias como história, sociologia e filosofia são mais gerais e apresentam conteúdos que são fundamentais, ao contrário da ciência política com o viés técnico apresentado no projeto de lei. “Mas também no caso dessas disciplinas, depende de como são ensinadas, porque também pode se ter uma sociologia tecnicista, por exemplo”, ressalva Gaudêncio. 

Ao se pensar em incluir disciplinas no ensino médio, o professor considera que é preciso ter também a preocupação de não se fragmentar o conhecimento. “Isso pode nos distrair de que o campo do conhecimento é a unidade do diverso. Em um ângulo ou outro é preciso incorporar isso e o ensino médio tem que dar a base para entender as ciências da natureza e a ciência do homem. A história, a geografia, 
a filosofia e a sociologia são suficientes para dar essa base”, pontua.

Leia mais no site de referência: 
Fonte: http://www.epsjv.fiocruz.br/index.php?
Area=Noticia&Destaques=1&Num=429

Texto publicado no: Jornal Gazeta Valeparaibana

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