“Ler ou não ler” é, uma vez mais, a questão.
Nas sociedades contemporâneas, a leitura (em contexto escolar, profissional ou de lazer) assume um papel importantíssimo na promoção do desenvolvimento cultural, científico, político e, consequentemente, econômico dos povos e dos indivíduos. Por isso, tanto se tem refletido sobre a forma de incentivar e motivar as pessoas para a leitura, em especial as crianças e os jovens, que ainda não criaram e enraizaram esse hábito tão enriquecedor.
Interlocutor privilegiado, pelo tempo que partilha com os mais novos, a escola pode ajudar a criar e a sedimentar hábitos de leitura quer promovendo e explorando o livro, com temáticas adequadas e atrativas para as correspondentes faixas etárias, quer dinamizando atividades inovadoras e interessantes com livros na biblioteca escolar, quer propondo a navegação em sites diversificados que põem o aluno em contacto com a leitura de diferentes suportes, muitas vezes interativos. Estas são, fundamentalmente, as questões sobre as quais nos debruçaremos no artigo que se segue.
As crianças e os jovens aprendem muito do que sabem acerca do mundo e da vida espontaneamente, em contextos muito diversificados que abrangem o grupo familiar, o círculo de amigos, as micro-sociedades ou grupos em que se inserem e os meios de comunicação social, desde a televisão até à Internet.
Mas é, sem dúvida, na escola e, frequentemente, através do livro, que aprendem de forma mais organizada a sistematizar as informações e os conhecimentos, a pensar, a olhar com espírito crítico a realidade circundante, a problematizar o mundo, a encontrar resposta para os problemas que enfrentam, a respeitar as diferenças étnicas, sociais e pessoais e, muitas vezes, a interiorizar os seus direitos e deveres, como pessoas e como cidadãos. Enfim, o contacto com o livro enriquece culturalmente o indivíduo e promove a sua autonomia. Para já não falar, especificamente, da importância do livro e da leitura para o melhoramento da competência linguística oral e para a aprendizagem do código escrito da sua própria língua.
De ano para ano vamos tendo cada vez a sensação mais nítida de que aumentam os problemas relacionados com a competência linguística oral e escrita dos jovens em geral, problemas esses denunciados diariamente pela própria família, pelos meios de comunicação social e, claro, amargamente constatados por todos os professores. É visível e constrangedora a dificuldade de certos adolescentes em exporem claramente um raciocínio. No âmbito da escrita já não são só os problemas ortográficos, mas é também o domínio deficiente da pontuação, da acentuação gráfica, da própria construção sintática da frase, bem como o da construção de um simples texto.
Neste contexto, afigura-se-nos óbvia a importância do livro e da leitura como fonte de saber e de cultura e como meio eficaz de aperfeiçoamento linguístico. Todavia, o difícil é ser capaz de conduzir as crianças e os jovens à leitura, quando estão rodeados de tantas e tão diversificadas solicitações e quando, por vezes, até o próprio meio familiar parece avesso a esta atividade e a tudo o que com ela diretamente se relaciona (nomeadamente, consagração efetiva de uma parcela do tempo livre à leitura, discussão de aspectos sobre os quais o livro que lemos nos fez refletir, exteriorização do prazer de ler, visita regular à biblioteca e à livraria e aquisição habitual de livros).
Não pretendemos refletir aqui sobre as razões sociológicas desta falta de tempo familiar para a leitura, senão mesmo falta de vontade, mas é certo que ela não contribui minimamente para a motivação intrínseca para ler que as crianças e os jovens deveriam ter.
Por outro lado, se a própria comunidade escolar (digo, comunidade escolar, e não só professores de Português) não conseguir mostrar aos alunos uma atitude muito positiva em relação ao prazer de ler, quer a finalidade seja informativa ou recreativa, e se não encarar a biblioteca como um espaço de cruzamentos curriculares, de modo a que a sua dinamização seja contínua e feita por todos, dificilmente conseguirá cativar os alunos para a leitura.
Primeiro de Julho dia Mundial das Bibliotecas. Vamos valorizar?
Todos pela dinamização das Bibliotecas Escolares e Públicas.
Filipe de Sousa
Texto publicado no jornal: GAZETA VALEPARAIBANA
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