sexta-feira, 3 de agosto de 2012

A FARSA DA INCLUSÃO


Palavras transformam-se em modismos e aparecem na boca de todos.

A palavra do momento na educação brasileira é o verbo incluir.

Fala-se que a escola pública no Brasil sempre foi praticante da exclusão e que o atual governo e sua ação educacional está corrigindo esta injustiça (isto para aqueles que acreditam na boa vontade do governo...). E estratégia para esta tal inclusão são bem conhecidas: criação de ciclos, a não reprovação, o abandono das notas, as correções de fluxo, entre outras.

Para sustentar a necessidade destas medidas seus defensores apresentam estatísticas onde o país aparece com péssimos indicadores nesta área: muita reprovação, muito analfabetismo. E afirmam que tal situação está mudando, afirmação na qual muitos professores acreditam, pois gostariam no íntimo de suas almas que fosse verdade.

Mas, o que significa inclusão?

Incluir os alunos onde?

Se é certo que a educação no Brasil sempre foi deficiente, a atual política educacional não está resolvendo o problema e muito provavelmente está contribuindo para agravá-lo. Isto porque o diagnóstico errado foi pensado através de uma filosofia liberal, mas um liberalismo mesclado de tradições patrimonialistas  incorporadas à cultura nacional há séculos. Desta forma muitos acreditam que inclusão resume-se em colocar crianças e jovens dentro de uma sala de aula, feito isto tudo está resolvido: pode-se dormir Tranqüilo, o Brasil está salvo.

Vejamos, no entanto, algumas possibilidades para explicarmos o conceito de inclusão: inclusão no mercado de trabalho em geral; inclusão no mercado de trabalho dos bons empregos e salários; inclusão como cidadão.

No primeiro caso, inclusão no mercado de trabalho em geral, não necessário  nos preocuparmos muito. Se incluir significar somente preparar o aluno para que ele "ganhe a vida", sem que importar como, então a escola não tem muita importância.

Os homens e mulheres vivem no mundo há milhões de anos sem escola e continuarão vivendo, seja lá qual for a educação que recebam. É claro que mesmo assim a escola é reprodutora de mão-de-obra, mas  bastará acrescentar um pouco de informática e pronto, já estaremos preparando nossos alunos da escola pública para enfrentar o novo milênio... Não é preciso dizer que não concordamos com está idéia.

Porém, se eu penso em inclusão como capacitar os alunos a competirem no mercado de trabalho por bons empregos e bons salários, em especial os novos empregos da sociedade da informação, nossos alunos não estão sendo incluídos.

O aluno da escola pública que não reprovou, que passou somente porque compareceu 75% das aulas (aulas, que aulas?), que participou do milagre da correção de fluxo, este não está preparado para competir em um ambiente sem paternalismo. A escola pública não está preparando os alunos para este mundo de competição (a escola particular sim, mas quem se importa com isto?).

Nosso aluno sai da escola sem condições de interpretar um texto, sem saber realizar as operações matemáticas elementares e sem a disciplina necessária, porque na escola podia fazer o que queria, sem conseqüências. Ou seja, o mundo que a escola está mostrando para seus alunos não existe. Esta ideia é importante, a escola deve, sem dúvida, proporcionar a transformação da realidade, mas não deve perder os vínculos com a realidade, se o fizer não cumpre seu dever.

A ideia de inclusão que mais agrada é muito mais ampla que mercado de trabalho, envolve a cidadania. Inclusão contempla, certamente, a possibilidade do aluno competir por um bom emprego e salário, que favoreça a mobilidade social e que dê esperanças aos alunos, mas não é somente isto. Incluir significa fornecer aos indivíduos as condições de ser livre, de ser cidadão real.

Cidadão capaz de ler uma notícia no jornal sobre os conflitos no Oriente Médio e saber onde fica esta região, as causas e as conseqüências do conflito.

Cidadão capaz de analisar a situação política atual a partir dos conceitos e fatos aprendidos em História e Sociologia.

Cidadão capaz de entender a explicação do médico porque sabe onde fica os órgãos do corpo e suas funções, mas que pode questionar o médico porque aprendeu química.

Cidadão capaz de apreciar um bom livro ou uma obra de arte porque aprendeu a ler. Nesta caso a escola pública não está incluindo.

Não incluía antes nem o faz agora com as mudanças implantadas pelo governo. Na verdade somente agrava a exclusão, pois ter o certificado de conclusão do Ensino Médio pode ser bom para as estatísticas do governo e sua propaganda eleitoral mas, para o indivíduo real de nada serve se não representar conhecimento verdadeiro.

Se apenas considerássemos o número de alunos na escola, já teríamos resolvido o problema. Mas a escola pública onde estão todos estes jovens brasileiros é aquela onde não se reprova, onde não é preciso saber para avançar, porque para os governantes tanto faz: o aluno é apenas um número em seus gráficos e quanto menos tempo ficar na escola menos gasto representará e melhores índices surgirão.

As verdadeiras causas da reprovação não aparecem nunca nos discursos oficiais, é como se as criança já nascesse na escola, não tivesse pai e mãe, não pertencesse a uma classe e como se a escola não fosse uma escola real, de paredes e de professores. É a escola sem nota, claro, porque a nota é um número fácil de ser identificado pelos alunos e pais...Uma avaliação descritiva (como é feita hoje), contribui para transformar a avaliação em algo misterioso, deixando alunos sem saber seu desempenho e pais sem poder cobrar este desempenho.

A linguagem empolada utilizada nos documentos oficiais e reproduzida nas escolas (em especial nas avaliações) contribui para dar ares de seriedade e autoridade a conceitos e idéias discutíveis.

Se realmente pretendessem resolver o problema da educação no Brasil, o problema da reprovação, do analfabetismo, da avaliação, os governantes deveriam investir no professor (isto quer dizer salário mesmo, não se vive só de esperança) e investir na estrutura: menos alunos em sala, menos alunos por professor, menor carga horária de trabalho. Já seria um grande passo, mas ainda seria necessário resolver os problemas econômicos do país, uma vez que uma política econômica recessiva não pode ser resolvida em sala de aula somente.

Agora, imaginem que a educação é uma corrida de Fórmula 1. Nos deram um fusquinha e como não estamos conseguindo vencer, os teóricos e técnicos na educação resolveram alterar a estratégia da corrida, afirmando que nós professores é que não sabemos dirigir direito... E tem professor que acredita nisto...

Isto ocorre porque os técnicos e teóricos da educação não enxergam o fusquinha e fica mais fácil e barato culpar o motorista, ou seja, o professor, do que comprar um carro novo.

Portanto, a não reprovação, os ciclos, os fluxos, as descrições, as avaliações continuadas, não passam de engodo, cujo objetivo e forjar índices para impressionar os mais ingênuos.

Por: Filipe de Sousa

Fonte: http://www2.uol.com.br

Publicado no jornal: GAZETA VALEPARAIBANA


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