Nossas crianças do fundamental
Dois terços das crianças matriculadas no 3° ano do ensino fundamental da rede pública não dominam o básico da matemática, ou seja, não sabem fazer operações simples de somar e subtrair.
Já entre os alunos de escolas particulares, três quartos sabem o mínimo esperado de matemática. Estes dados sobressaíram da divulgação nesta quinta-feira, 25, do resultado da Prova ABC, que avaliou 6 mil alunos de 250 escolas públicas e privadas das capitais do país.
Apenas um terço (32,58%) dos alunos da rede pública alcançou o índice que reflete o conhecimento esperado dos alunos do terceiro ano (crianças com idades por volta dos oito anos) segundo escala do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb). Por outro lado, 74,30% dos alunos da rede privada alcançaram o índice, mais que o dobro dos alunos da rede pública.
Até cerca de 1860, não existia diferenciação de sapatos para pés esquerdo e direito. Os sapatos eram simétricos, ainda que, em todas as pessoas, os pés direito e esquerdo sejam diferentes entre si. Cabia aos pés do freguês “deformar” os sapatos para adaptá-los ao formato dos pés. Por isso as pessoas tinham tantos calos. Eram muitas batalhas diárias de pés macios contra couros duros.
Em 2011, a educação brasileira está mais ou menos no mesmo estágio em que estava a indústria de sapatos até 1860. Não importam as preferências, pendores ou interesses dos alunos. Todos têm que estudar as mesmas coisas: basicamente matemática, língua, história e geografia.
Daí para adiante ensina-se a mais, não o que os alunos desejam aprender, mas todos os tipos de matérias que os educatecas do Ministério da Educação (ou das secretarias estaduais de educação), que controlam a educação brasileira por teleguiado, desejam que eles aprendam.
Além disso, em nome da participação social e da correção política, adicionam-se todos os tipos de matérias que interessam a grupos militantes de várias causas políticas, ideológicas, sociais ou que estão na moda, desde que os respectivos lobbies ou grupos de pressão tenham capacidade de influir sobre as autoridades para criar mais matéria inútil para as crianças, adolescentes e adultos.
Não é de admirar, portanto, que os alunos saiam calejados e, de maneira geral incapazes de fazer o que gostam, ou o que o mercado demanda porque foram educados de acordo com critérios que não levam em conta nem os gostos pessoais nem as demandas do mercado.
Conclusões, várias:
1. Muita gente infeliz.
2. Muita gente com dificuldade de arranjar empregos.
3. Um excesso de informações sobre história de coisas que pouco interessam a qualquer pessoa, fórmulas que poucos sabem como e em que aplicar, leis de física e química que não levam ninguém a conseguir fazer nada de prático com elas, pois foram quase todas ensinadas fora de qualquer contexto.
Assim, muita gente sabe calcular tensão superficial, mas não tem a menor noção de para que serve isso.
A verdadeira educação profissional só começa na faculdade e, novamente, é definida por um conluio entre educatecas governamentais e lobistas de grupos de interesse que determinam o que deve ser ensinado a quem estiver interessado em exercer, direito, engenharia, arquitetura, meio ambiente, medicina, etc., para que possam tornar-se membros das ordens e conselhos, pagar anuidades e ter o direito de ganhar o dinheiro.
Enquanto isso, os bem sucedidos (e viva eles) conseguem sucesso como empresários batendo com a cabeça na parede porque nada lhes foi ensinado sobre isso, fazendo sucesso como líderes de grifes, designers, conjuntos de musicais, atores, jogadores de futebol ou palhaços.
Notem que todas as pessoas que ganham dinheiro com estas coisas citadas como exemplos no parágrafo anterior fizeram-no graças a uma habilidade inata ou preferida, seja como autodidatas, seja aprendendo seus ofícios fora das escolas que fazem parte dos sistemas formais de educação, que são, em boa parte, financiados com o dinheiro dos cidadãos que pagam impostos ou com mensalidades pagas pelos pais iludidos, para que seus filhos ganhem um diploma, ainda que aprendam, na realidade, muito pouca coisa útil na vida.
Alguns exemplos para que pensemos um pouco se já não está na hora de derrubar os educatecas e cuidar de uma educação que combine a felicidade do educado com um pouco de criatividade socialmente útil.
P.S. – Se somarmos todas as horas desperdiçadas tentando ensinar matemática, geometria, álgebra, física e química a um discalcúlico como eu, e tivessem deixado que eu gastasse mais do meu tempo lendo o que me interessava, estou seguro que seria uma pessoa muito mais feliz. Nada do pouco que aprendi de matemática, além de conversões de medidas e moedas (sétima série), me serviu de nada na vida. Nunca. Não contribuiu, nem para o meu sucesso, nem para a minha felicidade, tampouco contribuiu para a felicidade coletiva, como tenho certeza que fizeram Romário e Tiririca, jogando futebol e fazendo-nos rir.
Anônimo - Via 3º. Setor
Texto retirado do jornal GAZETA VALE PARAIBANA - página 10
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