Todos os profissionais estão
sujeitos a erros e, com os professores, não é diferente. Portanto, a
grande virtude de um profissional da área da educação não é a
infalibilidade, mas a capacidade de procurar e reconhecer os próprios
erros e dificuldades de modo a evitá-los e, assim, tornar-se cada dia
melhor naquilo que faz.
O objetivo deste texto não é o
de apontar erros como se fossem um defeito grave, mas sim o de enumerar
os principais problemas dos professores de Geografia para que os
educadores dessa importante área do conhecimento possam aperfeiçoar-se.
Confira, a seguir, os onze erros mais comuns cometidos entre os professores de Geografia:
1) Não esclarecer o conceito da Geografia e seus objetivos
Não
são poucos os mitos e enganos sobre o que é, especificamente, a
Geografia. É claro que essa questão não possui uma definição única e
precisa, haja vista que é amplamente debatida pelos principais
pensadores da área e, eventualmente, redefinida. No entanto, cabe sempre
ao professor de Geografia o esclarecimento sobre o que é a Geografia e o
que ela estuda e, por extensão, o que ela não é e o que ela não estuda.
O grande erro dos professores de Geografia é realizar
essa tarefa em apenas uma aula, durante um período específico do ano.
Sempre que possível e necessário, é preciso lembrar aos alunos que a
Geografia é a ciência que estuda o espaço geográfico, que aborda os seus
aspectos naturais e humanos e que se baseia em importantes conceitos,
como o de paisagem, espaço, lugar, região, território e muitos outros.
Não
são raros os estudantes que se perguntam: como pode uma mesma
disciplina estudar, por exemplo, as configurações geopolíticas do
planeta e, ao mesmo tempo, as dinâmicas das formas de relevo? Para o
professor de Geografia, cabe a missão de explicar que esses temas fazem
parte de um mesmo conjunto socioespacial que está diretamente
relacionado com as práticas humanas.
2) Não contextualizar informações e conceitos
Esse
não é um erro exclusivo dos professores de Geografia, mas de várias
áreas do conhecimento. É amplamente sabido que um conceito ou tema
qualquer, explicado de forma isolada, é muito mais dificilmente
compreendido do que se a sua explicação fosse realizada a partir de um
contexto.
O aluno consegue assimilar melhor um
determinado assunto quando ele vê que aquele conhecimento não foi
apresentado em sala de aula de forma aleatória, mas que existem debates e
discussões sobre esse tema. Então, antes de introduzir uma determinada
matéria ou até um conceito muito específico, é bom apresentar uma
contextualização, que pode ser uma matéria de jornal, um artigo de
opinião, uma reportagem na TV ou até a fala do próprio professor sobre
uma história, uma curiosidade, entre outras inúmeras opções.
3) Colocar os alunos para decorar as capitais dos estados e dos países
É
verdade que esse procedimento é realizado cada vez mais raramente, mas
ainda ocorre. Um professor não deve colocar os seus alunos para decorar
aleatoriamente as capitais de países, o que se relaciona, diretamente,
com o item anterior. Afinal, essa metodologia para ensinar um
conhecimento, que é até eventualmente útil, apresenta-se de forma
mecânica e descontextualizada.
Mais do que decorar
quais são as capitais dos países e dos estados brasileiros, é importante
ensiná-las de forma transversal, ou seja, ao longo dos diferentes
temas. Por exemplo, quando estudamos os aspectos regionais da região
Nordeste, apresentamos as capitais dos estados dessa região de maneira
interligada com as demais características, o que pode gerar um maior
aprendizado.
4) Esvaziar a crítica dos temas ou se limitar a criticar
Embora exista certa polêmica sobre uma possível doutrinação dos professores de Geografia em sala de aula,
é errado pensar que os conteúdos devam ser trabalhados sem uma análise
crítica dos fatos, o que inclui a abordagem de todas as críticas
existentes sobre um determinado aspecto da realidade. Afinal, a própria
crítica serve como aprendizado, pois alimenta a contextualização
defendida no item 2.
Outro problema, no entanto,
estabelece-se quando o professor aborda um determinado assunto somente a
partir da sua crítica, privando os alunos de conceitos básicos. Um
exemplo clássico: aulas sobre as disputas árabe-israelenses sem o devido
aproveitamento das informações sociais e naturais da região, apenas com
a opinião do professor ou com as críticas existentes sobre o caso.
Portanto, é preciso encontrar um meio-termo entre a aula não crítica e a aula somente crítica.
5) Realizar críticas e opiniões sem conhecimento ou propriedade sobre os assuntos
Ainda
sobre a questão da crítica na Geografia, é importante considerar um
fato: o professor não deve opinar ou realizar críticas sobre qualquer
coisa se não possuir propriedade para tal. Em alguns casos, cabe mais a
humildade do “não saber” do que a arrogância do “achar que sabe” para
realizar considerações opinativas perante os estudantes.
Um
dos erros mais comuns dos professores de Geografia é não resistir a
opiniões fáceis, geralmente vinculadas ao senso comum e amplamente
difundidas, mas, muitas vezes, enganosas ou reducionistas. É claro que o
professor não precisa ser um “pós-doutor” sobre tudo aquilo que deseja
opinar, mas é importante o mínimo de conhecimento para evitar enganos.
Aliás,
uma das missões dos professores – principalmente em Ciências Humanas – é
combater, entre os alunos, a difusão do senso comum, pois a maioria da
população se pauta em informações vinculadas a esse tipo de saber,
gerando uma série de problemas para a sociedade. Pode até dar trabalho,
mas estar “por dentro dos fatos” é muito importante.
6) Trabalhar a produção e a leitura de mapas sem conteúdos e significados
Os
temas de Cartografia, como se sabe, são bastante importantes para a
Geografia. No entanto, alguns professores e muitos livros didáticos
cometem o erro de trabalhar os mapas e os seus elementos de maneira
descontextualizada. Mais do que aprender sobre os mapas, é preciso saber
o que eles estão dizendo, pois o conteúdo e o significado, sem dúvidas,
auxiliam uma correta leitura.
7) Não direcionar a aplicabilidade prática dos conteúdos
Em
muitos casos, mais do que apresentar o contexto ou o significado de
determinados assuntos e temas, os professores de Geografia precisam
também demonstrar a aplicabilidade prática de alguns acontecimentos ou o
porquê devemos apreendê-los. Isso não é, em muitas situações, uma
tarefa fácil, mas é altamente necessária, tornando-se, assim, um desafio
para quem ensina.
Muitos estudantes perguntam-se, por
exemplo: “por que eu preciso estudar placas tectônicas?” Assim, nesse
caso, o professor precisa esclarecer que o conhecimento sobre as placas
tectônicas ajuda-nos a entender como se formam as cadeias montanhosas,
por que acontecem terremotos e vulcanismos, além de explicar algumas
diferenciações no relevo que interferem na nossa vivência direta.
8) Não utilizar mapas para espacializar as discussões
Se
não apresentar conteúdos e conhecimentos relevantes durante o ensino de
Cartografia é um erro, o mesmo pode ser dito em não apresentar mapas
para espacializar os temas abordados em sala de aula. Os estudantes,
quase sempre, precisam saber e entender corretamente a localização de um
acontecimento para compreender melhor o que está sendo explicado.
Por
exemplo: o professor afirma que o Oriente Médio é uma região onde
existem muitos conflitos territoriais, políticos e também envolvendo
recursos naturais, notadamente a água e o petróleo. Ao ouvir essas
informações, o aluno pode perguntar-se: “Onde está o Oriente Médio?”
Assim, utilizar mapas temáticos para esclarecer os diferentes pontos
desse e de outros assuntos pode facilitar o aprendizado no sentido de
diminuir o caráter abstrato que os conteúdos podem eventualmente
adquirir.
9) Desvincular totalmente a Geografia Física da Geografia Humana
Para
fins didáticos, é comum haver a separação entre a Geografia Física e a
Geografia Humana no processo de ensino e aprendizagem. Até o currículo
escolar, muitas vezes, apresenta essa característica. Mas isso não quer
dizer que essas áreas estejam desconectadas ou, mais precisamente, que
os saberes abordados por elas não estejam interligados.
A
Geografia, afinal de contas, estuda, entre outras coisas, a relação
entre sociedade e natureza, de modo que é impensável acreditar que os
elementos antrópicos estejam desconexos dos elementos humanos. Assim,
sempre que possível, o professor deve enfatizar essa complexa e
abrangente relação.
10) Ignorar temas e acontecimentos atuais
O
professor de Geografia não deve ignorar, em suas aulas, acontecimentos
atuais, pois a realidade social é muito dinâmica. Assim, notícias e
fatos – amplamente noticiados ou não – precisam ser abordados durante as
aulas, nem que isso aconteça apenas de maneira introdutória. É bom
também, por outro lado, que o professor consiga um equilíbrio, pois o
excesso de comentários sobre notícias a acontecimentos pode atrapalhar o
andamento das aulas e o atendimento do currículo escolar.
Além
do mais, ao planejar uma aula sobre qualquer assunto, é bom que se
pesquise a respeito de descobertas científicas ou acontecimentos
recentes, pois isso pode auxiliar, mais uma vez, na contextualização
defendida no item 2.
11) Ignorar fatores históricos e conhecimentos de outras disciplinas
Nos
tempos atuais, a busca pela interdisciplinaridade é constante, muito
embora a formação de professores e o processo de constituição das
ciências apresentem limitações quanto a isso. Assim, é preciso que o
professor de Geografia busque, ao máximo, romper com barreiras
interdisciplinares existentes.
Nesse sentido, é
importante apresentar os contextos e acontecimentos históricos de
determinados assuntos, além de, ao menos, relacionar determinados temas e
conceitos com conteúdos de outras disciplinas.
Esperamos
que, com essa lista dos onze erros mais comuns entre os professores de
Geografia, possamos contribuir para o aperfeiçoamento da prática docente
dos profissionais dessa área. É claro que, em muitos casos, as falhas
não são de responsabilidade exclusiva dos professores, haja vista que a
falta de estrutura de algumas escolas, a má gestão ou a excessiva carga
horária precarizam o trabalho docente. De toda forma, temos que
considerar as nossas limitações – pessoais ou estruturais – como um
desafio para melhorar não só o desempenho nas salas de aula, mas a
educação em si.
Por Me. Rodolfo Alves Pena
Texto original: Canal do Educador
Texto replicado deste endereço: CARLOS GEOGRAFIA
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