O Brasil é o país dos doutores.
Em cada esquina há uma placa indicando algum.
O médico é doutor.
O dentista é doutor.
O veterinário é doutor.
O advogado é doutor.
O engenheiro é doutor.
O dono da fábrica de parafusos é doutor.
O fazendeiro é doutor.
O delegado de polícia é doutor.
O juiz é doutor.
O promotor público é doutor.
O
interessante é que, com tantos doutores, a burrice cresce
exponencialmente no país e a ignorância se agarra, como craca, às
consciências.
Graças à redes sociais na internet ficou fácil perceber esse fenômeno.
Doutores os
mais diversos são flagrados nelas a todo instante distribuindo coices
na lógica, na história, na gramática e na ética.
É como se eles fizessem questão de mostrar ao mundo inteiro como são desprovidos de qualquer lampejo cognitivo.
Fazem isso sem nenhum pejo, pois afinal são doutores.
No dia a
dia usam e abusam desse título, muitas vezes obtido numa dessas
uniesquinas da vida que afrontam a ideia de que a educação é um processo
relevante para o ser humano superar a barbárie.
Ai de quem,
num desses consultórios médicos ou odontológicos que vivem
superlotados, não chamar o especialista em viroses ou o expert em
extrações de doutor.
O mesmo se
dá com o rábula que bombou "n" vezes no exame da OAB ou com o tira que
comprou o diploma para ostentar um anelão cafona no anular.
Eles, por serem doutores, se julgam acima de todos os outros, os cidadãos comuns, os ordinários.
Como tais, assim titulados, se permitem certas liberalidades, como, por exemplo, fraudar o Imposto de Renda.
São
doutores nessa matéria - e em tantas outras que prezam a esperteza, o
jeitinho, o toma lá dá cá, o "sabe com quem você está falando?"
O fato é
que, com tantos doutores a habitá-lo, o Brasil deveria ser a nação mais
desenvolvida do universo, o pináculo do pensamento científico, o cume da
moralidade, o ápice da igualdade social, o Everest da distribuição de
renda.
Mas cá
estamos nós, encolhidos numa mediocridade que se apequena a cada dia,
que nos arrasta de volta a um passado tenebroso e maldito.
Esse passado que nos legou tantos doutores - tantas mentes desprovidas de uma ínfima centelha de racionalidade e caráter.
Texto original: CRÔNICAS DO MOTA
Concordo. Apenas uma correção no penúltimo parágrafo: "encolhidos numa mediocridade que NOS apequena a cada dia". Se muito embora que seria muito bom mediocridade se apequenar até sumir de vez.
ResponderExcluir