domingo, 6 de maio de 2012

Bibliotecas !!!


Pegar um livro e abri-lo guarda a possibilidade do fato estético.
O que são as palavras dormindo num livro?
O que são esses símbolos mortos? Nada, absolutamente.
O que é um livro se não o abrimos?
Simplesmente um cubo de papel e couro, com folhas; mas se o lemos acontece algo especial, creio que muda a cada vez.


Jorge Luís Borges


Pensar sobre a importância da biblioteca escolar hoje para o processo de ensino-aprendizagem constitui repensar a própria prática de leitura na escola. Isso porque sabe-se que a biblioteca guarda os mais diversos tipos de livros e que, teoricamente, estão todos à disposição do aluno sempre quando precisar. No entanto, não é isso que de fato acontece. No cotidiano escolar, percebemos a pouca (ou nenhuma) utilização da biblioteca como espaço educativo e informacional que promove leituras, análises, debates e encontros entre livros e indivíduos. A biblioteca, não raras vezes, é palco de punições. Basta um aluno atrapalhar a aula de um professor que logo é enviado, sem aviso prévio, à biblioteca ou à sala de leitura. Por isso, é de suma importância que repensemos o papel da biblioteca dentro da escola e sua significação. 

Antes de qualquer proposta que leve os educandos a frequentar a biblioteca escolar, é preciso pensar nos principais problemas que dificultam essa prática. São eles: 

1º) O espaço físico - não raras vezes a biblioteca fica num canto escondido da escola. Um local pouco arejado, úmido, mal-iluminado, desconfortável e apertado. Para agravar a situação, muitas escolas dissociam a sala de leitura da biblioteca, apresentando-as como lugares distintos, quando deveriam estar num único espaço. Nesse sentido, a biblioteca em si não passa de um "depósito de livros". 

2º) O acervo - geralmente desatualizado; os livros que se encontram na biblioteca diversas vezes estão em péssimas condições de uso. Muitos são doados pelos próprios professores que, querendo se livrar do "entulho", depositam-nos como doação. A falta de recursos para a compra de livros de qualidade contribui para a estagnação e o empobrecimento do acervo. 

3º) Organização do acervo - a catalogação do acervo acontece de forma confusa, desorganizada e difícil. O sistema de números e letras dificulta o acesso ao objeto de pesquisa não só para o usuário como para o próprio profissional da biblioteca. Um catálogo mal-organizado e com classificação obscura colabora para a falta de interesse dos usuários pela biblioteca. A verdade é que muitas bibliotecas nem têm seu acervo arquivado de forma que permita a pesquisa dos usuários. Algumas escolas anotam seu acervo num velho caderno que só pode ser consultado pelo próprio funcionário da biblioteca para procurar o material solicitado. Dessa forma, o material não pode ser manuseado pelos usuários. Ou seja: não é permitido fazer descobertas no acervo. 

4º) Empréstimo de material - algumas bibliotecas não adotam o sistema de empréstimo, permitindo apenas a consulta do material no local. Alegam que os alunos danificam os livros, arrancam folhas, rabiscam, demoram a devolver ou não devolvem o material. Por conta disso, não ocorre o sistema de cadastro e empréstimo de material do acervo. 

5º) Horário de funcionamento - deparar-se com a biblioteca trancada não é pouco comum. O horário de funcionamento nem sempre condiz com os horários que professores e alunos podem e desejam utilizá-la. O fato é que o horário da biblioteca fica a cargo do horário da pessoa que lá trabalha. 

6º) Profissional encarregado da biblioteca - infelizmente o que se vê são muitos professores em fim de carreira ou com problemas de saúde encostados nela. Assim, na biblioteca encontram-se muitos profissionais que precisam de um lugar tranquilo, silencioso e vazio para passar os últimos dias, meses ou anos de suas vidas profissionais. Por isso, esses educadores preferem manter a ordem, o silêncio sepulcral e a disciplina no local. O pouco ou nenhum contato com o usuário é, assim, almejado; quando acontece, é frio, técnico e monossilábico. Às vezes, é adotado um sistema de empréstimo no qual o usuário solicita o livro por meio de um envelope. No dia seguinte ao pedido, o bibliotecário, em vez de orientar o consulente, deposita o pedido no mesmo pacote para que o usuário receba sua encomenda. A relação usuário-bibliotecário, nesse sentido, acontece também de forma impessoal. Outro ponto importante a se ressaltar é a condição desse profissional: não-leitor e não-incentivador da prática da leitura no local. 

7º) Utilização da biblioteca escolar - é válido atentar para a falta de planejamento pedagógico, de projeto que integre a biblioteca ao projeto político-pedagógico da escola. Muitas vezes os usuários reduzem-se a alunos que vão ao local tão-somente para copiar verbetes de grandes enciclopédias e dicionários antigos e empoeirados. Quando a pesquisa na biblioteca não tem como base a cópia, o lugar é mal-utilizado, servindo como local de descanso ou conversa de alunos ou, o que é pior, como espaço de punição. 

Alguns professores exigem que os alunos que não estão em sala de aula sejam castigados na biblioteca. Essa postura contribui para fazer da biblioteca a grande vilã da escola. 

Direitos imprescritíveis do leitor 

Também devem ser considerados os direitos do leitor, que, segundo Daniel Pennac, são os seguintes: 

1) O direito de não ler. 
2) O direito de pular páginas. 
3) O direito de não terminar um livro. 
4) O direito de reler. 
5) O direito de ler qualquer coisa. 
6) O direito ao bovarismo (doença textualmente transmissível). 
7) O direito de ler em qualquer lugar. 
8) O direito de ler uma frase aqui e outra ali. 
9) O direito de ler em voz alta. 
10) O direito de calar. 

Assim, são imprescindíveis atividades como contação de histórias, rodas de leitura, cirandas, concursos de poesias, contos e crônicas, encontros com escritores, ilustradores e especialistas em literatura. É importante também levar os alunos a visitar bibliotecas públicas e livrarias. Isso possibilita a reflexão acerca da organização do acervo, da multiplicidade de autores e estilos e do zelo pelo material da biblioteca, bem como a conduta de liberdade e respeito dentro dela. 
 
Liberdade para fazer encontros entre leitores e livros, gostos e desgostos. Respeito, traduzido em cuidado, com os livros e com o espaço da biblioteca, a fim de deslegitimar questões como o empréstimo de livros. 

Da redação

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