Nomofobia é a moléstia psíquica relacionada ao pavor de ser separado de seu smartphone
Novos vícios, novos conceitos. Em tempos de delírios tecnológicos, a psicologia corre atrás, nomeando e investigando patologias emergentes. Nomofobia é a moléstia psíquica relacionada ao pavor que um indivíduo experimenta se separado de seu smartphone.
Foi revelada em 2008, a partir de estudo realizado no Reino Unido, que mostrou que mais de 50% dos usuários de celulares experimentam ansiedade quando perdem o aparelho; e que, entre jovens, o porcentual é ainda maior.
Os smartphones surgiram no fim da década de 1990 e foram adotados em massa na década seguinte. De símbolo de status transformaram-se rapidamente em bem de consumo obrigatório para todas as idades e estratos sociais.
Junto às fantasias prometidas pela tecnologia vieram os efeitos colaterais. No fim de 2016, a American Academy of Pediatrics divulgou um amplo estudo sobre os efeitos das mídias digitais (frequentemente difundidas por meio de smartphones) sobre crianças e adolescentes.
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Na longa lista de problemas, velhos conhecidos de pais e mães: efeitos negativos sobre o sono, a atenção e o aprendizado; relação preocupante com a obesidade e a depressão; exposição a conteúdos inadequados; e riscos relacionados à privacidade.
Em um ensaio de grande repercussão veiculado na revista The Atlantic em 2017, Jean M. Twenge, professora de psicologia na Universidade Estadual de San Diego, alertou sobre o risco de uma crise mental iminente afetando crianças e adolescentes.
A autora argumenta que a onipresença de smartphones teve efeito dramático sobre os jovens nascidos entre 1995 e 2012: mais tempo na frente da tela e menos socialização; mais segurança, porém, mais vulnerabilidade; maior tendência para a depressão e para o suicídio.
Para adultos no mundo do trabalho, os efeitos começam a ser estudados e analisados. A conectividade 24/7 (24 horas por dia, 7 dias por semana) já existia antes dos smartphones, porém, foi intensificada com os novos aplicativos de troca de mensagens. A disponibilidade permanente gera ansiedade e estresse, ou tecnoestresse, outra invenção da época.
Em artigo publicado na revista científica Addictive Behaviors Reports, Éilish Duke e Christian Montag reportam estudo realizado na Alemanha. O ponto de partida é que a disseminação dos smartphones mudou significativamente a maneira como nos comunicamos, nos entretemos e trabalhamos.
No trabalho, percebe-se facilmente o efeito negativo dos aparelhinhos sobre a produtividade. Faltava, entretanto, comprovação científica. O estudo, conduzido com 262 voluntários, comprova que há relação entre o vício em smartphone e a percepção de perda de produtividade.
Diversos outros estudos revelam que o uso dos smartphones rouba horas do dia de trabalho. Seus sinais visuais e sonoros constantes interrompem fluxos de raciocínio e prolongam desnecessariamente o tempo de realização de atividades.
O uso mal administrado de smartphones ajuda a criar um ambiente de emergência permanente, transforma problemas gerenciáveis em incêndios ameaçadores e faz com que todos se sintam como bombeiros sem equipamentos, frustrados e impotentes, diante de circunstâncias supostamente avassaladoras.
De forma geral, o entendimento científico sobre os efeitos colaterais dos smartphonesainda está engatinhando. Vários efeitos e fenômenos correlatos precisam ser estudados e compreendidos.
Primeiro, a crescente substituição do trabalho investigativo e reflexivo pela bricolagem aflita de conteúdos da internet. Segundo, o declínio da capacidade de planejamento e execução e a aceitação do caos permanente. Terceiro, o faz de conta digital tomando lugar do trabalho real, dado que o primeiro oferece recompensa imediata, embora efêmera, enquanto o segundo exige disciplina e dedicação e só traz recompensa a médio ou longo prazo. Quarto, uma separação cada vez maior entre seres pensantes, ainda autônomos e críticos e hordas de zumbis digitais. Uma verdadeira distopia pode estar em gestação.
Realizar mais estudos científicos é importante para contrapor à propaganda avassaladora dos fabricantes de smartphones, coligados e inocentes úteis da mídia. Não se trata de combater, tal qual luditas, a tecnologia. Os pequenos computadores pessoais constituem avanço importante. É preciso, entretanto, conhecer melhor seus efeitos colaterais e desenvolver antídotos.
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