Conheça a trajetória de nações que valorizam os professores e são exemplos de modelos educacionais do mundo
Se
é difícil encontrar paralelo no mundo com o que se passa no Brasil de
maneira geral, é quase impossível detectar uma experiência semelhante
quando se trata de educação. Na maioria dos países, ricos ou pobres, ao
Norte ou ao Sul, a compreensão do ensino como esteio da civilização e da
prosperidade é disseminada e defendida pela sociedade. Ninguém se
atreveria a cortar o orçamento das universidades sob a alegação de
“balbúrdia”, interromper o pagamento de bolsistas de mestrado ou
doutorado sem critérios claros ou chantagear os eleitores com a
possibilidade de secar as torneiras caso uma reforma da Previdência não
seja aprovada. O mais provável destino de um governo que assim se
comportasse seria uma breve temporada no poder – e o ostracismo
político.
Na
Europa, berço do Estado de Bem-Estar Social, o ensino, do maternal à
universidade, é público e gratuito, salvo raras exceções, e não há líder
populista de direita capaz de convencer a população de que o sistema
prejudica a economia e estimula o privilégio. Ao contrário. A educação
universal e às expensas do Estado é vista como uma condição básica para
garantir a igualdade e o desenvolvimento. Nas nações em que escolas
públicas e privadas convivem, o ensino pago é preenchido por uma minoria
– ou filhos de milionários ou estudantes com dificuldades de adaptação.
Não
bastasse, enquanto o governo Bolsonaro escolhe a educação e a ciência
como os inimigos número 1, nações que há muito tempo atingiram a
universalização do ensino preparam-se para a nova etapa do capitalismo: a
revolução industrial e tecnológica chamada de 4.0, tsunami que
destruirá milhares de profissões e milhões de empregos ao redor do mundo
nas próximas décadas. Corrida para a qual, obviamente, o Brasil se
torna cada vez menos competitivo.
A
seguir, listamos cinco países que, em diferentes medidas, redobraram
seus esforços para adaptar os cidadãos à nova fase do desenvolvimento:
Portugal
Desde
que a OCDE, a organização das nações desenvolvidas, começou, em 2000, a
aplicar um sistema de avaliação entre seus afiliados, Portugal registra
melhoras constantes nos indicadores. Em 2015, os estudantes do país
conseguiram notas acima da média em ciências, leitura e matemática. Um
dos segredos é o maciço investimento nas famílias e nos primeiros seis
anos de uma criança. Entre 2003 e 2015, o total de mães com ensino
secundário completo subiu 41%. Quanto maior a escolaridade materna,
mostram os estudos, maior o rendimento dos filhos na escola. Nem a crise
econômica que devastou Portugal em 2008 interferiu nas políticas
públicas.
A
educação básica em Portugal é dividida em três ciclos e leva 12 anos
para ser concluída. O Ensino Superior contempla dois sistemas:
universitário e politécnico. No primeiro, são conferidos aos estudantes
os graus de licenciatura, mestrado e doutorado. Os institutos
politécnicos concentram-se na formação profissional prática.
Finlândia
Referência
mundial, a Finlândia constantemente aparece no topo das avaliações de
qualidade da educação. A revolução no ensino começou ainda nos anos
1960, quando os impostos gerados pela indústria de papel e celulose
sustentaram a adoção das políticas de Bem-Estar Social. O ensino
gratuito e universal foi adotado na década de 70 e desde então mira o
conhecimento interdisciplinar e não estanque. Matemática, ciência e
música são apresentadas aos estudantes por meio de projetos integrados,
forma de combinar os conteúdos e adaptá-los ao cotidiano dos alunos.
Como a individualidade é estimulada e não reprimida, uma sala reúne até
cinco níveis de estudantes em torno de uma mesma tarefa.
Na Finlândia, é mais difícil virar docente do que médico. É preciso, no mínimo, mestrado para dar aula
O
governo incentiva a adoção de novas tecnologias e modelos de
aprendizagem. Os professores são valorizados e exigidos. É preciso
mestrado para dar aulas em uma escola de Ensino Fundamental. Na
Finlândia é mais difícil ser professor – em 2015, a taxa de aprovação
nos cursos de formação de professores foi de 4,2% – do que médico, cujo
índice de aprovação nas faculdades é de 8,8%.
A FINLÂNDIA MIRA O ENSINO MULTIDISCIPLINAR. O CANADÁ, A INTEGRAÇÃO E A IGUALDADE DE OPORTUNIDADES. |
Canadá
Em
2015, o país ocupou o terceiro lugar do ranking da OCDE em leitura e
ficou entre os dez melhores na avaliação geral. O sistema canadense
organiza-se a partir de províncias autônomas, ou seja, não há um sistema
nacional, mas políticas distintas em cada localidade. Um traço comum no
sistema é, no entanto, a igualdade de oportunidades. Há um esforço para
integrar o grande contingente de migrantes que todos os anos aporta no
país. Em geral, um aluno de fora leva três anos para alcançar uma
performance semelhante aos estudantes de origem canadense.
São
também expressivos os investimentos em alfabetização, treinamento de
professores, bibliotecas e reforço para alunos com dificuldade de
aprendizagem.
Os
bons índices refletem ainda a homogeneidade socioeconômica. Há pouca
diferença de rendimento escolar entre os alunos mais e menos pobres. No
último Pisa, o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes, a
variação de notas causada por diferenças socioeconômicas foi de apenas
9%, em comparação aos 20% da França e 17% de Cingapura, para citar dois
casos.
A
rede pública abriga o maior número de estudantes. Em Ontário, 94% dos
alunos estão matriculados em unidades públicas. De maneira geral, o
sistema repele a lógica “academicista”, de fixação de conteúdos, e
estimula a autonomia. Aos 14 anos, os canadenses podem escolher as
disciplinas que mais interessam e montar a própria grade curricular. A
educação obrigatória vai até os 16 anos.
Alemanha
Depois
de um contingenciamento na última década causado pela crise econômica
de 2008, a Alemanha anunciou a retomada dos investimentos públicos.
Serão 160 bilhões de euros a mais entre 2021 e 2030 para universidades e
centros de pesquisa científica independentes. “Com isso, estaremos
garantindo a prosperidade do nosso país no longo prazo”, afirmou Anja
Karliczek, ministra da Educação, durante o anúncio dos novos
investimentos.
A Alemanha acaba de anunciar um incremento de 160 bilhões de euros no orçamento de universidades e centros de pesquisa
Além
de mais dinheiro para a contratação de professores, as universidades
terão acesso a um fundo de 150 milhões de euros destinado a projetos
especiais.
PARA “GARANTIR A PROSPERIDADE NO LONGO PRAZO”, COMO AFIRMOU A MINISTRA DA EDUCAÇÃO, A ALEMANHA APOSTA NO ENSINO SUPERIOR |
Estônia
Na
última edição do Pisa, o ranking da OCDE, a Estônia apareceu em
terceiro lugar, atrás apenas de Cingapura e Japão. O sucesso educacional
recente do pequeno país báltico sustenta-se em um tripé: acesso
universal e gratuito em todas as etapas do ensino, autonomia garantida a
professores e escolas e valorização da educação pela sociedade.
O
governo investe atualmente 6% do PIB em educação. Enquanto o Brasil
gasta 6,6 mil reais com estudantes do Ensino Fundamental, a Estônia
aplica o equivalente a 28 mil reais. Boa parte do dinheiro garantiu o
aumento de renda dos professores, que cresceu 80% nos últimos dez anos. O
piso salarial é de 1,2 mil euros, cerca de 5 mil reais.
Um
currículo nacional orienta os ciclos de aprendizagem, mas as escolas
têm autonomia para aplicá-lo da maneira que acharem melhor. Como na
Finlândia, as disciplinas são integradas e não respeitam limites
burocráticos. Ética e educação digital estão entre os temas mais
explorados. Exige-se no mínimo mestrado dos professores.
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