Se existe uma coisa óbvia nesse mundo – sim, não serei leviano em colocar essa pecha apenas sobre o Rio de Janeiro, mesmo que aqui seja um lugar onde esse tipo de coisa se potencializa – é que as pessoas que antigamente eram conhecidas como “bem educadas” são coisa fora de moda, para não dizer impraticáveis.
Com raríssimas exceções, a boa educação não resolve mais nada. Se você quer ser respeitado, você precisa, hoje em dia, fazer três coisas - não necessariamente nessa mesma ordem: pagar, ameaçar ou agredir. Sensatez? polidez? esquece.
O fato é que, isto posto, quem recebeu há umas boas décadas um tipo de educação que preconizava o respeito ao próximo, o “ceder a vez”, o “falar baixo” e coisas assim, já percebeu que não tem muito lugar na sociedade.
É claro, há que se viver e na vida a gente convive obrigatoriamente com outras pessoas. Mas a maioria dos bem educados entende que não dá para se envolver com qualquer um. Com isso, o convívio naturalmente se restringe e a gente passa a tratar só o indispensável com a maioria das pessoas. E torcendo, claro, para que esses casos indesviáveis não sejam perigosos.
Contudo, quando os bem educados tem filhos, a coisa se complica. Porque quem quer, foge dos outros, se isola. Mas não dá para isolar as crianças do mundo.
As crianças terão obrigatoriamente que conviver, durante anos a fio, com outras crianças e com os pais dessas crianças, gente que se encontra aleatoriamente no mesmo colégio. O colégio, esse até pode ser escolhido, por critérios como excelência de ensino, localização, preço. Os amigos de nossos filhos, não.
E aí dá-se a desgraça. Porque quem é bem educado é minoria. Crianças bem educadas são mais minoria ainda.
Uma criança bem educada é simplesmente atirada a uma turba de monstrinhos que os paizinhos e maezinhas adoram chamar de “anjinhos”. E ai de quem encostar a mão nesses futuros pitboys. As escolas, por seu lado, são empresas. Precisam de lucro.
Ninguém vai contra quem está pagando e pagando bem. Entre desagradar os mal educados e os bem educados, não há muito o que escolher.
Eis aí o dilema dos bem educados diante do assédio – inevitável – às suas crianças: ter de ensiná-las a fazer tudo aquilo que lhes é mais abominável: revidar, agredir, desrespeitar, tomar o lugar à força, desprezar, debochar.
A sobrevivência depende de usar as armas do adversário.
E a escolha, ao final é entre dois sofrimentos. Ou se sofre por ser educado, ou por não poder mais sê-lo.
Por: VP
Texto retirado do Jornal GAZETA VALEPRAIBANA (pag. 13)
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