terça-feira, 11 de julho de 2017

A FÁBRICA DE BANDIDOS

Por Antônio Carlos Vieira

Observando a, situação atual, distribuição da população brasileira em relação a educação, terras e riquezas fica a seguinte pergunta: por que a grande maioria dos descendentes de africanos e dos nativos (índios) não tem terras para plantar, são maioria no grupo dos analfabetos, maioria dos delinquentes e geralmente são maioria no grupos dos desempregados ou possuem empregos de baixa renda? Melhor ainda: por que os fatos históricos que levaram a essa situação nunca são mostrados na imprensa (também nas escolas) e não são levados em consideração quando se combate o aumento dos crimes e aumento do analfabetismo?

O atual enfrentamento das forças no Estado do Rio de Janeiro, contra os traficantes no morro, tem levando muita gente a achar que bastaria se eliminar (matar) os traficantes do morro e a paz reinaria naquela cidade. Além dos traficantes não serem os únicos bandidos, a atormentar a população, é bom observar o que levou a se criar o atual estado das coisas. Por que senão vão matar os bandidos atuais e os fatos que fizeram surgir esses bandidos irão produzir mais bandidos para que futuramente podermos matar mais e saciarmos a nossa “sede de justiça” em um país que não se combate a produção de tais bandidos. Senão estará se criando uma Fábrica de Bandidos para, em vez em quando, exercitarmos o patriotismo de termos que eliminarmos estes “estrangeiros nascidos no Brasil !!!”

O Brasil antes da libertação dos escravos (negros e índios) as terras eram adquiridas pelo processo das sesmarias que simplesmente eram ocupadas para que se pudessem plantar e produzir. Só que os negros e índios não podiam ocupar,  adquirir ou tomar posse de terras por serem escravos e tratados como mercadorias. Com a “Abolição da Escravatura”, o grupo político que controlavam o Estado e o poder econômico criaram a chama Leis das Terra (1850). A partir desta lei, todas as terras brasileiras passaram a pertencer ao Estado e só poderiam ser adquiridas, por particulares ,compradas em Leilões Públicos. Essa “coincidência”, de libertação dos escravos e criação das Leias das Terras, impediram os negros de terem acesso a algum pedaço de terra. O mais estranho é que os negros foram libertos da escravidão sem receberem nenhuma indenização pelos trabalhos forçados e castigos recebidos. Por ironia da vida, os fazendeiros, antigos donos dos escravos, é que receberam indenizações para tornarem os escravos livres!!!

Para piorar a situação, o Estado brasileiro passou a ceder sesmarias, em Santa Catarina, para os novos colonos que estavam chegando ao Brasil, sem nunca terem trabalhado para terem direito a um pedaço de Terra e também facilitou a chegada de novos colonos para substituírem a mão de obra escrava.

Essa situação deixou os negros abandonadas sem direito a terra, sem acesso aos empregos, sem acesso a educação e sem direito a segurança. Muitos continuaram tralhando por salários ínfimos que não davam condições minimas de vida e continuavam tendo a vida miserável de escravos. Os que não conseguiram empregos passaram a ocupar terras sem valor como morros, terras de mangues e muitos distantes das grandes cidades (surgindo os atuais Quilombolas). Os negros continuaram a fazer parte da sociedade que se destinavam a fazer os trabalhos pesados e considerados de menos valor para as classes mais abastardas (constituídas em sua grande maioria de brancos).

Mesmo depois de mais de cem anos, da Abolição da Escravatura, a grande maioria dos descendentes dos escravos (negros e índios) vivem reivindicando educação, terra (o MST é um grande exemplo) e acesso a saúde. Nos morros a policia só aparece para punir os que já se tornaram delinquentes e bandidos e nunca garantem aos que não se tornaram bandidos o direito a segurança (que faz "justiça" nos morros são os traficantes!!!). O mais interessante é que até na bandidagem os negros fazem o serviço mais perigoso (que é vender drogas e dar seguranças aos lideres do grupo) e o grosso do dinheiro com a venda das drogas ( não fica nos morros) vão parar nos bolsos dos lideres que moram em condomínios ou mansões de luxo protegidos pelo anonimato.

Acredito que a grande maioria dos que entraram para o crime não tenha mais recuperação. Mas,  as futuras gerações desses abandonados terão apenas como exemplos de bandidos como referência de vida? O Estado dará acesso a cidadania (Educação, Saúde e segurança) aos que ainda não entraram para o crime? Ou o Estado, apoiado por uma sociedade injusta, continuara fabricando bandidos pra serem eliminados no futuro em nome da “justiça”?



Estamos vendo na televisão a ocupação de alguns morros na Cidade do Rio de Janeiro e sequer sabemos se daqui para frente esses mesmo morros irão ter a presença do Estado. Mas, vamos que o Estado resolva marcar presença nesses morros (garantido a cidadania), ainda fica uma pergunta: e o restante das favelas e abandonados de outras cidades terão direito a cidadania? Que eu saiba a Cidade do Rio de Janeiro não é a única a apresentar locais em estado de abandonos!

Texto original: CARLOS GEOGRAFIA

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