sábado, 12 de maio de 2012

CERTO igual a ERRADO?

À primeira vista pode parecer um problema matemático, um paradoxo ou algo assim, mas trata-se, pura e simplesmente de uma maneira de exprimir aquilo que temos visto ultimamente, ou porque sai na mídia ou porque vivenciamos. 
Estamos inseridos numa sociedade que o bem é tido como mal, o certo como errado, valores morais como cerceamento de direitos. Parece-nos pura hipocrisia. Professores são chamados à fala para se explicarem porque exigem que os alunos façam sua lição de casa, diretores são investigados porque exigem que alunas ou alunos venham devidamente vestidos para a escola. 
De certa forma, escrevendo esse artigo, me vem à memória que o povo e consequentemente seus dirigentes, rezam a mesma cartilha, ou seja, fazemos aquilo que ambos queremos. 
O que dizer de uma sociedade que dá ibope para o programa BBB, famoso por apresentar casos onde a libidinagem e promiscuidade são os únicos fatores norteantes? 
Recentemente vimos na mídia o caso de uma Diretora de escola ter sido chamada às falas pela Secretaria de Educação paulista pelo simples fato de ter exigido que suas alunas viessem decentemente vestidas para as aulas. Já outra diretora, foi afastada da escola por cobrar o Estado que concluísse a reforma em sua escola, que já perdurava 3 anos. Incrível! 
O mais interessante é que tudo está na mídia. 
No caso da diretora afastada, para piorar a dirigente daquela diretoria não soube se explicar e também não permitiu vistas ao processo de afastamento da Diretora alegando que o mesmo é confidencial. Houve até uma sessão pública a qual ela não compareceu, ou seja, desmandos, pouco caso, inescrupolosidade. A Secretaria de Educação perde seu precioso tempo com casos que não são problemas, enquanto arruma mais problemas criando casos. Isso é apenas a ponta do iceberg, pois o tamanho da coisa é bem maior. Tão recente quanto aos fatos acima, temos um outro em que uma mãe vem se debatendo entre e-mails para Ouvidoria e, não tendo sido aceitas em suas propostas, enviou e-mail para a própria Secretaria de Educação e, recentemente enviou um e-mail para a Corregedoria. 
Ela simplesmente quer que uma Diretora da escola se retrate, simplesmente porque seu filho foi advertido por ter entrado no banheiro das professoras, detalhe é que seu filho nem estuda mais naquela escola. 
Repetimos: A Secretaria de Educação e a Ouvidoria perdem tempo com isso tendo tantos outros problemas mais urgentes para serem tratados. Não bastasse o dia a dia de professores, funcionários e diretores ainda se perde tempo em responder à essas demandas as quais chamamos de “non sense”,pois consideramos realmente sem sentido uma Secretaria de Estado, no caso da Educação preocupar-se com demandas na esfera regimental da escola, ou permitir que seus Dirigentes se imponham autoritariamente sem explicações convincentes. 
Será que os senhores burocratas da educação não conhecem o regimento interno de uma escola? 
Regimento este que, aliás, foi aprovado por uma Diretoria de Ensino?
Será que os senhores burocratas da educação querem mostrar, aos olhos daqueles pais, que provavelmente, acham que seus filhos e filhas que ir à uma escola para mostrar seus dotes físicos seria o correto? 
Custa-nos crer nisso. Mas, voltando ao pensamento anterior onde o BBB é um dos programas mais vistos na televisão brasileira, não fica tão difícil assim acreditar nisso. 
Vivemos uma triste inversão de valores de uma sociedade onde a justiça não mantém o bandido preso, onde a polícia que deveria proteger o cidadão, só o faz quando se vê suas entranhas fétidas ficarem à mostra, onde políticos eleitos pelo povo, inclusive professores, pleiteiam manter os salários desses mesmos professores que os elegeram num patamar de quase miséria, haja visto que não querem aplicar a lei do piso.
Não que a lei do piso resolva em definitivo o problema salarial do professor, mas ao menos minimiza. Esquecem-se os políticos de que, se sabem ler, escrever, fazer contas, aquelas contas de somar que usam para somar aos seus polpudos salários, inúmeras gratificações e verbas de todos os naipes, esquecem que foram os professores que deram à eles ferramentas para progredirem e agora se voltam contra nós, e nesse momento sentimos o arrependimento de tê-los ensinados. 
Fica quase claro e notório aos nossos olhos, que exigir dos Diretores de escola, professores e funcionários que peçam desculpas aos pais por tentarem dar aos seus filhos aquela educação que, infelizmente, eles pais, não estão dando é algo surreal. Torna-se ainda óbvio que, num ano político, eles, nossos burocratas da educação, escolhidos por concordarem com a política educacional de um partido ou outro, preocupados com seus traseiros gordos e achatados de tanto ficarem sentados numa confortável cadeira de escritório, estejam de fato preocupados. 
Não com os pais, ou com a educação no Estado, mas sim preocupados em manterem suas posições confortáveis dentro de um escritório com ar condicionado, longe do ambiente escolar, onde os problemas pululam. 
Sob o pretexto de não ser exigido uniformes nas escolas estaduais de São Paulo, pais permitem que seus filhos venham à escola como se fossem vestidos para uma balada ou para um evento qualquer. 
É bem verdade que ser trata, talvez de uma minoria, mas que se vale de “direitos” ou daquilo que lhe interessa na lei para se desobrigarem da educação dos filhos sem perceberem do mal que estão causando aos filhos, mas como diz o ditado – Cada cabeça uma sentença.
Seria uma reedição, nesse caso, da famosa história do Médico e o monstro? 
Será que, nós professores, deveríamos ser mais permissíveis, fazermos vistas grossas? 
Como diriam os alunos: - Deixar rolar? Não sei.
Mas, com certeza, é desgastante, estressante mesmo, ver essa inversão de valores onde o certo é tido como errado. Onde os professores são colocados contra a parede, tendo como seus algozes os próprios pais. 
Triste fim, e não é de Policarpo Quaresma que estou falando, mas o fim de uma nação que tendo dormido em berço esplêndido por tanto tempo, acorda agora para a realidade nua e crua de uma sociedade acostumada ao paternalismo dos governos e suas corriolas que para se manterem no poder são capazes de devorarem a própria perna. 

Omar de Camargo
Técnico Químico Professor em Química
Pós-Graduado em Química
omacam@professor.sp.gov.br

Ivan Claudio Guedes
Geógrafo e Pedagogo.
Professor de Geografia na Secretaria de Estado da Educação de São Paulo.
Professor do curso de Pedagogia da Faculdade Método de São Paulo.
Palestrante e consultor nas áreas de Meio Ambiente e Educação.
icguedes@professor.sp.gov.br

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